sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

Mitologia 28: Gilgamesh, o primeiro herói


A Epopéia de Gilgamesh foi escrita há quase 5.000 anos e é considerada por muitos o mais antigo épico da história da Humanidade. Baseada na mitologia sumeriana, contém uma narrativa do Dilúvio anterior à Bíblia, e as viagens do semideus Gilgamesh são consideradas como uma provável influência para diversas lendas gregas, como as viagens de Ulisses na Odisséia, de Jasão e os Argonautas, e dos trabalhos de Héracles (Hércules).

Os feitos de Gilgamesh podem ser resumidos na seguinte seqüência:

  1. Gilgamesh, filho do rei Lugalbanda e da deusa Ninsun, era 2/3 divino e 1/3 humano; incrivelmente poderoso, era muito temido pela sua crueldade. Os reis resolvem criar um rival a altura, e plasmando com argila o homem-fera Enkidu, que vive entre os animais até ser encontrado por um caçador que o ensina o caminho da civilização por meio de uma prostituta.
  2. Enkidu e Gilgamesh se enfrentam num combate furioso, descobrindo que são como iguais. A partir daí tornam-se companheiros inseparáveis.
  3. Juntos, enfrentam, Humbaba, o gigante da floresta dos cedros, um monstro terrível com dentes de leão e garras de dragão, cujo olhar era mortal. Utu-Shamash, o deus do Sol e da Justiça, auxilia a dupla mandando os 13 Ventos para combater o monstro, que acaba derrotado.
  4. Gilgamesh rejeita o amor da deusa sumeriana do amor, Inana-Ishtar, que furiosa, envia um touro celeste para enfrentá-los. Eles matam o animal celeste.
  5. Enkidu cai num sono profundo, mortalmente ferido pelo ataque do Touro do Céu, e vem a morrer. Gilgamesh, abalado com a perda do amigo, fica obcecado com a própria morte, e decide partir em busca da Imortalidade.
  6. Viaja rumo ao Oeste, sumindo montanhas e matando leões e vestindo-se com suas peles. Após atravessar dias e mais dias na Escuridão chega aos portões dos Deuses, vigiados por homens-escorpião.
  7. No Jardim dos Deuses, Gilgamesh encontra-se com o próprio Shamash, que o instrui a procurar pela vinhateira Siduri.
  8. Siduri mostra-lhe o caminho até Utnapishtim, o sobrevivente do Dilúvio, que construiu uma Arca e vive com os deuses. Com Urshanabi, o balseiro dele, Gilgamesh descobre que existe uma flor subaquática espinhosa que trará a Imortalidade.
  9. A flor é colhida, acaba roubada por uma serpente, que ganha assim a “imortalidade”, passando a trocar de pele.
  10. Gilgamesh não consegue o que queria, e permanece mortal.

Gilgamesh é filho de uma deusa. Temos aí um paralelo em Jasão, protegido pela deusa Hera, Héracles e Ulisses, por Atena; Aquiles, filho de Tétis.

Eu suspeito de uma origem comum as histórias do Enkidu mesopotâmico e do Adão hebraico: ambos viviam num estado de inocência primitiva “entre os animais”, e perderam este “paraíso” após o contato com uma mulher; também poderia incluir o mito grego de Epimeteu e Pandora nesta comparação.

O companheirismo entre Gilgamesh e Enkidu é comparável ao de Aquiles e Pátroclo, ao de Héracles e Iolau, e à dupla Teseu e Piritoo.

Humbaba é o protótipo do monstro guardião: poderíamos compará-lo às Górgonas, ao dragão Ládon (guardião do Jardim das Hespérides), a Gerião, ao dragão que protegia o Velocino de Ouro (enfrentado por Jasão), e até mesmo Polifemo (“de olhar terrível”, como Humbaba) e do Minotauro, o guardião do Labirinto.

Inana, deusa ciumenta, desempenha um papel comparável ao das feiticeiras Circe (Odisséia) e Medéia (Argonautas), e talvez a das amazonas no mito de Héracles.

Vários destes heróis enfrentam touros “sobrenaturais”: Héracles captura o Touro de Creta, e rouba o gado de Gerião; Jasão doma touros de bronze que cospem fogo; Ulisses rouba os bois do Sol; Teseu mata o Touro de Maratona e o Minotauro.

A Viagem para o Oeste, rumo à terra da Escuridão e dos Mortos encontra-se na Odisséia e nos Trabalhos de Héracles. A viagem dos Argonautas é no sentido contrário, para a mítica “Terra do Sol” no extremo oriente do Mundo (mais tarde, com a expansão geográfica do mundo helênico, esta terra lendária foi identificada com a Cólquida, atual Geórgia), mas eles tiveram paradas pelo Mediterrâneo ocidental.

Héracles chega ao Jardim das Hespérides, terra das maçãs douradas, fonte da Imortalidade, uma reminiscência notável do Épico de Gilgamesh. A benévola deusa Siduri pode ser comparável à ninfa Calipso, que Ulisses encontra na ilha de Ogígia. O mito do Dilúvio é atestado na Mitologia Grega, na Hebraica e na Indiana, além de outras partes do mundo.

A serpente torna-se a culpada pela perda da Imortalidade, como no Gênesis.

Um comentário:

Anônimo disse...

Quem garante que foi uma epópeia, e não um conto histórico real?