sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Evolução 103: um marsupial unindo Austrália e América do Sul

Embora tenham sua história evolutiva conhecida em termos gerais, os Marsupiais ainda possuem muitos enigmas a serem desvendados. Uma delas é correta relação entre os marsupiais australianos (canguru, diabo-da-tasmânia, vombate, coala, etc.) e os sul-americanos (gambás e cuícas). O que se sabe é que os marsupiais mais primitivos, vindos da América do Norte através de uma ligação passageira no final do Cretáceo, colonizaram a América do Sul, e através de antigas conexões paleogeográficas com a Antártida, aí chegaram, atingindo depois a Austrália, onde tornaram-se os mamíferos dominantes e sofreram uma irradiação adaptativa fantástica.
Ainda há terríveis lacunas no nosso conhecimento, devido à falta de jazidas paleontológicas em períodos mais antigos na Antártida e Austrália. Os marsupiais antárticos fósseis foram descobertos na Formação La Meseta, data do Eoceno Inferior, enquanto que os mais antigos marsupiais australianos conhecidos foram achados na Formação Tingamarra, do Eoceno Médio.
Uma nova descoberta foi feita na Formação Tingamarra, que lança mais luz sobre os nossos esparsos conhecimentos: uma nova espécie, Chulpasia jimthorselli, pertencente a um gênero já conhecido do Paleoceno Superior (ou Eoceno Inferior) de Laguna Umayo, no Peru, onde viveu sua congênere C. mattaueri. A existência de um gênero de marsupiais bunodontes (isto é, de dentes molares arredondados) simultaneamente na América do Sul e Austrália comprova a permanência de uma conexão transantártica em pleno Terciário. Com os dados fornecidos pela nova espécie, foi erigida uma nova subfamília de marsupiais, os Chulpasíneos (Chulpasiinae), reunindo os gêneros Chulpasia (Austrália e Peru) e Thylacotinga (Austrália, da mesma formação Tingamarra), cuja morfologia indica a possibilidade de serem ancestrais de uma ordem extinta de marsupiais onívoros-herbívoros sul-americanos e antárticos, os Polidolopimorfos (Polydolopimorphia). Esta relação de parentesco entre as faunas eocênicas de ambos continentes é concordante com um estudo filogenético que pôs as aves ratitas sul-americanas (emas) e australianas (emus e casuares) numa relação de parentesco próximo. Além do mais, a existência de conexão transantártica no Eoceno Inferior pode aumentar as chances de serem encontrados fósseis de mamíferos não-marsupiais na Austrália, como preguiças, tatus e ungulados. Curiosamente, o sítio de Tingamara já possui uma espécie descrita de um suposto mamíferio placentário ungulado, Tingamarra porterorum. Outro grupo que pode ter uma distribuição semelhante é a dos morcegos, visto que quirópteros foram encontrados na Formação Tingamarra (Australonycteris), na Formação Laguna Fría, na Argentina, e talvez em La Meseta. Além destes, as primitivas cobras da família dos Madtsoídeos (Madtsoiidae) possui uma distribuição gondwânica, com os gêneros Patagoniophis e Alamitophis presentes concomitantemente no Campaniano argentino e no Eoceno australiano, em Tingamarra.

Chulpasia and Thylacotinga, late Paleocene-earliest Eocene trans-Antarctic Gondwanan bunodont marsupials: New data from Australia. Geobios. (no prelo provas corrigidas pelos autores). Bernard Sigé, Michael Archer, Jean-Yves Crochet, Henk Godthelp, Suzanne Hand, Robin Beck.



Nenhum comentário:

Postar um comentário