quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Evolução 89: Afradapis, o primo desmancha-prazeres de Darwinius

A descoberta do Darwinius masillae no início do ano inundou os meios de comunicação com manchetes de "ancestral do homem", "elo perdido", "a descoberta das descobertas", num grau de euforia que desde cedo contestada e repelida por muitos paleontólogos, que preferiram a cautela. A proposição inicial de que a análise do completíssimo e conservadíssimo esqueleto do Darwinius, encontrado no sítio de Messel, na Alemanha (Eoceno Médio), colocava os Adapiformes como parentes mais próximos dos Haplorrinos (Haplorhini, incluindo társios, macacos e nós, humanos) que dos Estrepsirrinos (Strepsirhini, com os lêmures, galagos e lórises).
Aqueles que preferiram a científico e cauteloso ceticismo não tiveram que esperar muito para ver sua cautela premiada: A descoberta de mais um adapiforme, desta vez no Eoceno Superior de Birket Qarun, Egito, desmanchou o pretenso status de "ancestral humano" do Darwinius. O recém-batizado Afradapis longicristatus, revelou-se parte de um curioso clã de adapiformes que desenvolveram alguns traços convergentes com os símios primitivos, mas sem deixar descendentes. O grupo, reunido na subfamilia do Cenopitecíneos (Caenopithecinae), inclui os europeus Caenopithecus lemuroides (descoberto em 1862) e o "decaído" Darwinius, assim como os africanos Afradapis e Aframonius dieides, o que pressupõe uma migração afro-européia mais antiga, já que nesta época os continentes eram separados pelo Oceano Tétis. Uma rota presumida passaria por alguma cadeia de ilhas ligando de alguma forma o norte da África com o sul da Europa.



Erik R. Seiffert, Jonathan M. G. Perry, Elwyn L. Simons & Doug M. Boyer (2009). Convergent evolution of anthropoid-like adaptations in Eocene adapiform primates. Nature 461, 1118-1121 (22 October 2009)
doi:10.1038/nature08429

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