No meio do caminho tinha uma pedra. E nesta, o fóssil de uma espécie até então desconhecida de crocodilomorfo, que, segundo pesquisadores do Departamento de Geologia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e do Museu de Paleontologia de Monte Alto, em São Paulo, pode ser a peça que faltava para explicar a evolução deste grupo de animais ao longo do tempo. Batizado de Montealtosuchus arrudacamposi, este indivíduo seria o elo perdido entre os crocodilos que habitaram a Terra na pré-história e as espécies mais recentes. O estudo teve apoio da Faperj.
Descoberto em 2004, na região de Monte Alto, no interior paulista, o fóssil apresenta características que ora remontam ao passado, ora ao presente.
" Está no meio do caminho entre os jacarés e crocodilos quase "alienígenas" que existiam há centenas de milhões de anos "
- O Montealtosuchus apresenta características intermediárias entre o estado primitivo e o estado atual da morfologia dos Crocodilomorfos. É mistura dos dois. E isso é uma indicação de que ele é um passo da evolução deste grupo - explicou com exclusividade ao GLOBO ONLINE o pesquisador da UFRJ, Felipe Mesquita de Vasconcellos. - Ele está no meio do caminho entre os jacarés e crocodilos quase "alienígenas" que existiam há centenas de milhões de anos e os que conhecemos hoje.
Entre as características "atípicas" do Montealtosuchus, o cientista cita uma estrutura localizada antes dos olhos, chamada fenestra antorbital, que é bastante particular dos crocodilos primitivos. O crânio mais curto e alto é outra peculiaridade comum a essas espécies. Em relação aos seus parentes mais contemporâneos, as principais semelhanças ficam por conta das articulações do crânio e da mandíbula.
- O esculturamento dos ossos externos também é muito parecido. Seus braços, pernas e vértebras lembram em muito os crocodilos atuais.
Composição artística do Montealtosuchus arrudacamposi - Divulgação
Mas foi no céu da boca do animal que a teoria de que a espécie seria o elo perdido entre os crocodilos ganhou forma. Mais especificamente na coana, o duto que liga a garganta do animal com a sua narina externa.
- Nos crocodilos primitivos, esse buraquinho de passagem de ar fica deslocado bem para frente. Nos atuais, o duto é deslocado bem para trás. Já no montealtosuchus, a coana fica bem no meio do céu da boca - revela o pesquisador. - Ela é ampla e larga, como nos crocodilos antigos, mas apresenta um septo muito delicado que a separa em duas metades, o que é uma característica comum aos animais de hoje.
A análise de características tão específicas só foi possível devido ao excelente estado do fóssil, que apesar de ter aproximadamente 80 milhões de anos, encontrava-se quase que completamente preservado.
" Isso garante um ganho de informações sobre a espécie e o grupo sem precedentes. É uma descoberta realmente fantástica "
- Este é, sem sombra de dúvidas, o melhor exemplar da família Peirosauridae já descoberto. O crânio, as vértebras do pescoço e das costas, os membros anteriores, as unhas, os osteodermos [placas ósseas localizadas nas costas e no abdome dos jacarés e crocodilos] estavam completamente conservados - revelou Felipe. - Isso garante um ganho de informações sobre a espécie e o grupo sem precedentes. É uma descoberta realmente fantástica.
Percebendo ter em mãos um material realmente especial, e em condições de ser submetido a métodos alternativos de análise, os pesquisadores decidiram ir além do feijão com arroz e recorrer a exames sofisticados para garantir o "diagnóstico" mais rico e preciso possível do fóssil. Foi assim que o montealtosuchus arrudacamposi, quem diria, acabou sendo submetido a uma tomografia computadorizada, em uma clínica do Rio de Janeiro.
- A técnica permitiu que víssemos o interior do crânio do animal e tivéssemos acesso a informações que não são visíveis num exame clássico - explicou o pesquisador da UFRJ.
A partir do exame, os pesquisadores confirmaram que a nova espécie era terrestre - e não aquática, como se poderia imaginar tendo como referência os crocodilos que conhecemos -, adaptada a andar grandes extensões de terra, por longos períodos de tempo, e a viver em regiões de clima seco e quente. De porte pequeno a médio, o montealtosuchus media entre 1,50 m a 1,70 m e pesava de 25 a 50 quilos. Seus membros eram alongados, o que lhes garantia grande mobilidade e agilidade para andar em terra firme, e apresentava uma armadura flexível no dorso e no abdômen para proteção contra outros predadores.
- O Montealtosuchus foi um predador importante em seu tempo. Ele se alimentava de pequenos dinossauros, tartarugas, lagartos, outros crocodilos de menor porte e de aves e mamíferos, que apesar de não aparecerem com freqüência nos registros da época, há 80 milhões de anos, já existiam - Felipe Vasconcellos.
- É um fóssil realmente fantástico, tanto por sua preservação, que não tem comparação com nenhum outro material já descoberto na América do Sul, quanto por suas características, que marcam um ponto de mudança na evolução dos crocodilos - ressalta. - O estudo deste fóssil traz grandes descobertas sobre a evolução dos crocodilomorfus e para o entendimento de como essa evolução se procedeu.
Descoberto em 2004, na região de Monte Alto, no interior paulista, o fóssil apresenta características que ora remontam ao passado, ora ao presente.
" Está no meio do caminho entre os jacarés e crocodilos quase "alienígenas" que existiam há centenas de milhões de anos "
- O Montealtosuchus apresenta características intermediárias entre o estado primitivo e o estado atual da morfologia dos Crocodilomorfos. É mistura dos dois. E isso é uma indicação de que ele é um passo da evolução deste grupo - explicou com exclusividade ao GLOBO ONLINE o pesquisador da UFRJ, Felipe Mesquita de Vasconcellos. - Ele está no meio do caminho entre os jacarés e crocodilos quase "alienígenas" que existiam há centenas de milhões de anos e os que conhecemos hoje.
Entre as características "atípicas" do Montealtosuchus, o cientista cita uma estrutura localizada antes dos olhos, chamada fenestra antorbital, que é bastante particular dos crocodilos primitivos. O crânio mais curto e alto é outra peculiaridade comum a essas espécies. Em relação aos seus parentes mais contemporâneos, as principais semelhanças ficam por conta das articulações do crânio e da mandíbula.
- O esculturamento dos ossos externos também é muito parecido. Seus braços, pernas e vértebras lembram em muito os crocodilos atuais.
Composição artística do Montealtosuchus arrudacamposi - Divulgação
Mas foi no céu da boca do animal que a teoria de que a espécie seria o elo perdido entre os crocodilos ganhou forma. Mais especificamente na coana, o duto que liga a garganta do animal com a sua narina externa.
- Nos crocodilos primitivos, esse buraquinho de passagem de ar fica deslocado bem para frente. Nos atuais, o duto é deslocado bem para trás. Já no montealtosuchus, a coana fica bem no meio do céu da boca - revela o pesquisador. - Ela é ampla e larga, como nos crocodilos antigos, mas apresenta um septo muito delicado que a separa em duas metades, o que é uma característica comum aos animais de hoje.
A análise de características tão específicas só foi possível devido ao excelente estado do fóssil, que apesar de ter aproximadamente 80 milhões de anos, encontrava-se quase que completamente preservado.
" Isso garante um ganho de informações sobre a espécie e o grupo sem precedentes. É uma descoberta realmente fantástica "
- Este é, sem sombra de dúvidas, o melhor exemplar da família Peirosauridae já descoberto. O crânio, as vértebras do pescoço e das costas, os membros anteriores, as unhas, os osteodermos [placas ósseas localizadas nas costas e no abdome dos jacarés e crocodilos] estavam completamente conservados - revelou Felipe. - Isso garante um ganho de informações sobre a espécie e o grupo sem precedentes. É uma descoberta realmente fantástica.
Percebendo ter em mãos um material realmente especial, e em condições de ser submetido a métodos alternativos de análise, os pesquisadores decidiram ir além do feijão com arroz e recorrer a exames sofisticados para garantir o "diagnóstico" mais rico e preciso possível do fóssil. Foi assim que o montealtosuchus arrudacamposi, quem diria, acabou sendo submetido a uma tomografia computadorizada, em uma clínica do Rio de Janeiro.
- A técnica permitiu que víssemos o interior do crânio do animal e tivéssemos acesso a informações que não são visíveis num exame clássico - explicou o pesquisador da UFRJ.
A partir do exame, os pesquisadores confirmaram que a nova espécie era terrestre - e não aquática, como se poderia imaginar tendo como referência os crocodilos que conhecemos -, adaptada a andar grandes extensões de terra, por longos períodos de tempo, e a viver em regiões de clima seco e quente. De porte pequeno a médio, o montealtosuchus media entre 1,50 m a 1,70 m e pesava de 25 a 50 quilos. Seus membros eram alongados, o que lhes garantia grande mobilidade e agilidade para andar em terra firme, e apresentava uma armadura flexível no dorso e no abdômen para proteção contra outros predadores.
- O Montealtosuchus foi um predador importante em seu tempo. Ele se alimentava de pequenos dinossauros, tartarugas, lagartos, outros crocodilos de menor porte e de aves e mamíferos, que apesar de não aparecerem com freqüência nos registros da época, há 80 milhões de anos, já existiam - Felipe Vasconcellos.
- É um fóssil realmente fantástico, tanto por sua preservação, que não tem comparação com nenhum outro material já descoberto na América do Sul, quanto por suas características, que marcam um ponto de mudança na evolução dos crocodilos - ressalta. - O estudo deste fóssil traz grandes descobertas sobre a evolução dos crocodilomorfus e para o entendimento de como essa evolução se procedeu.
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